quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A morte na panela

"Eliseu voltou a Gilgal. E havia fome na terra; e os filhos dos profetas estavam sentados na sua presença. E disse ao seu moço: Põe a panela grande ao lume, e faze um caldo de ervas para os filhos dos profetas.
Então um deles saiu ao campo a fim de apanhar ervas, e achando uma parra brava*, colheu dela a sua capa cheia de colocíntidas* e, voltando, cortou-as na panela do caldo, não sabendo o que era.
Assim tiraram de comer para os homens. E havendo eles provado o caldo, clamaram, dizendo: Ó homem de Deus, há morte na panela! E não puderam comer.
Ele, porém, disse: Trazei farinha. E deitou-a na panela, e disse: Tirai para os homens, a fim de que comam. E já não havia mal nenhum na panela".
II Livro dos Reis 4.38-42

O texto é por demais conhecido e muito pregado nas igrejas, especialmente pelos simbolismos e analogias que nele encontramos; Apesar disto, não posso deixar de pensar que este pode explicar muito dos absurdos que vemos hoje no dito meio evangélico brasileiro.


1 - Havia fome na terra. A terra era Gilgal, onde havia uma escola de profetas, local atuação de Elias e agora de Elizeu, o que não isentou os santos de sofrerem com a calamidade. E quem é que disse que não passaríamos por dificuldades e problemas? Jesus afirmou "no mundo tereis aflições..." (Jo 16.33). Aliás, sem ser sádico e muito menos masoquista, o sofrimento é por vezes a maneira mais eficaz de sermos moldados por Deus. Salomão dizia: "a tristeza do rosto torna melhor o coração" (Ecl 7.3), mas isso é um outro assunto. O fato é que sempre haverá fome na terra e especificamente essa fome de Deus, das coisas espirituais. Jesus vendo a multidão, já ao final do dia, disse aos discípulos: "Dai-lhes vós de comer" (Lc 9.13). Está sob responsabilidade de Igreja prover o mundo da comida espiritual que é a Palavra de Deus. Veja que diante das circunstâncias não faltou a atitude do profeta em pedir para ser colocada a panela no fogo - mesmo sem ter ainda algo para cozinhar - e sugerir que se fizesse um caldo de ervas para que os filhos dos profetas se alimentassem.


2 - Um deles. O texto é claro ao afirmar que "um deles" saiu ao campo para buscar ervas; Não foi um estranho quem trouxe as parras bravas para a panela. Era alguém conhecido e do ofício dos profetas. Temos visto inseridas em algumas pregações, predominantemente as televisivas e/ou gravadas, incitações a contendas, heresias das brabas mesmo, ataques à doutrina e aos costumes primitivos, pregadores cuspindo no prato onde outrora comeram e também comendo com porcos, tudo isso alcançando uma enorme massa de ouvintes. Abraçam o que se deve rejeitar e passam uma imagem forte de que não há perigo em algumas alianças ou experimentar novos e desconhecidos temperos. Pois é. Triste o constatarmos que aprendizes de profetas e profetas vem divulgando com mais fervor a teologia da prosperidade, participando de grandioso encontros nacionais de r-é-t-é-t-é onde aberrações são vistas, toleradas e até incentivadas em nome do mover do Espírito Santo, importando e depois implantando em igrejas modelos impróprios e até malígnos, defendendo abertamente práticas sexuais anormais entre um casal para estimular o relacionamento, levando líderes e igrejas à agregarem-se ao "novo ministério " com multiplicação exponencial de apóstolos, paipóstolos, vice-deuses e outras configurações mais. Já ouviu falar da unção do riso, da galinha, do leão, tocar o shofar, de danças, festivais, verões gospel, arca da aliança paraguaia, raves, pagodes, boates e baladas "evangélicas"? Seriam por acaso esses profetas filiados a alguma agremiação do mundão? Infelizmente, são figurinhas que todos conhecemos e que já vimos pregar tantas vezes. Eram dos nossos, talvez até com boas intenções de prover alimento, mas faltava-lhes uma coisa. Não é por acaso aque inda hoje lemos o elogio bíblico aos irmãos da Beréia, que apesar do prestígio de receberem ninguém menos que o apóstolo São Paulo para pregar-lhes, conferiam diariamente nas Escrituras o que este lhes ensinava para ver "se as coisas eram assim" (At 17.11). Oremos por nossos líderes; Eles, mais que qualquer um membro, necessitam de nossas orações para que não tropessem, senão o estrago é grande.


3 - Ele não sabia o que era aquilo. Aquele profeta (possivelmente um jovem aprendiz) não sabia discernir o que era bom para comer e dar de comer. Saiu para buscar ervas e achando algo diferente, colocíntidas, agradáveis aos olhos mas desconhecendo o mal que poderiam fazer, touxe uma capa cheia delas, cortou-as e pôs na panela do caldo. O que falta é discernimento. Toda novidade é implantada sem um mínimo de reflexão pois o negócio é o agora. Mata a fome do povo com modismos e heresias e depois quem comeu vai para o hospital ou para o cemitério. Que consequências verei se permitir a implantação do modelo X? Não estarei abrindo as guardas para o ingresso de heresias? O rebanho de Deus que me foi confiado estará em perigo? Isto fere a sã doutrina e os bons costumes? O cantor Y pode cantar no púlpito de minha igreja? Como é a vida dele? Que exemplo dá e como influencia as ovelhas mais jovens? O que tem pregado tal pastor, apesar de sua longa lista de credenciais, cargos, cruzadas, dvds e cds gravados? Infelizmente muitos "jovens" obreiros - às vezes não tão jovens assim - no intento de agradarem ao povo, de proverem novidades e de ajuntarem multidões, abrem a guarda e consentem parras bravas na doutrina, na liturgia, no cotidiano da congregação, falácias belas aos olhos (e ouvidos) cujo resultado é o desarranjo, a dor, a fraqueza e morte espiritual da igreja - imediata ou posterior. O que escreví não é novidade e lamento que muitos critiquem alguns pastores ditos ortodoxos (ora, TODOS os pastores deveriam ser ortodoxos) pela postura austera em relação à essas coisas, que inibem a atuação de alguns falastrões em suas áreas eclesiásticas, que seguram com rédea firme o que aprenderam e conservam o modelo da Palavra de Deus.


4 - Alguém gritou. Sempre haverá alguém que gritará avisando da morte na panela. Talvez alguém mais velho e mais experiente, talvez alguém mais observador. Quem sabe, os arautos daquele dia perceberam de imediato o efeito no organismo dos mais frágeis e alertaram sobre o perigo da comida ou imediatemente ao provarem o caldo sentiram o gosto do veneno. Não puderam comer é o que diz o texto. Quem se alimenta da Palavra, do leite puro (I Pe 2.2) nunca poderá aceitar, não conseguirá engolir caldo de parras bravas. Igrejas que aprendem, que têm mais cultos de doutrina, que dão mais tempo para o ensino, que não "enrolam" seus membros com programações pouco nutritivas serão mais fortes e mais resistentes à aceitação de novo cardápio, especialmente se for de pepinos bravos. Não dá pra trocar a Palavra, o ensino, a oração, o discipulado, o evangelismo, as pregações, as consagrações, o verdadeiro serviço de música e louvor, o jejum, por programas puramente sociais. Eles podem até existir mas nunca deverão tomar o tempo e a primazia da Palavra na vida da Igreja, nem mesmo se vierem travestidos de louvorzão, cruzada, ação social ou outra coisa boa aos olhos, com ótima aparência como são as flores das colocíntidas. Alguns profetas podem ser hoje alcunhados de pro-festas de tantas invenções substutivas aos verdadeiros cultos que de fato deveriam estimular em suas igrejas. É preciso ouvir o que clamava João Batista no deserto: -Endireitai os vossos caminhos! (Mc 1.3, Jo 1.23). Graças a Deus que existem Pastores, homens que o Senhor tem levantado para gritarem contra o que se quer colocar na panela, contra o que alguns querem dar ao povo para comer pois não é qualquer um que pode, e nem que deve levantar-se contra, afinal, são todos profetas, filhos de profetas e estão todos em Gilgal.


5 - Tragam farinha. Ei, há uma solução! O homem de Deus logo percebeu o que estava acontecendo e a providência não foi outra: farinha na panela, logo! Ele mesmo deitou a farinha e ordenou que desse aos homens para comer. Tratou o mal e a farinha foi o remédio! A farinha de trigo, base da culinária daqueles tempos, é símbolo da Palavra de Deus. Ela é eficaz e penetrante (Hb 4.12), é remédio para a morte que havia na panela e somente ela, administrada ao povo, poderá reverter o quadro sombrio que paira sobre grande parte das igrejas evangélicas deste País. A Palavra transforma, liberta, vivifica, renova. A Palavra dará forças necessárias aos profetas e filhos dos profetas para continuarem o serviço, o ministério. Jesus ordenou que João escrevesse à sete igrejas que existiam na Ásia, específicamente a seus dirigentes e as recomendações entre outras diziam "arrepende-te", "torna ao primeiro amor, às primeiras obras", "adquire de mim", "lembra-te de onde caíste", "o que tens, retende até que eu venha", "Sê vigilante", "guarda o que tens", "aconselho-te", "lembra-te do que tens recebido e ouvido" (Ap 2, 3). Jesus continua falando nestes últimos dias. Quem tem ouvidos, ouça!


Não haverá a "morte da panela" pois ela precisa continuar a ser vista como fonte de alimento. Os púlpitos podem ser comparados a essas maravilhosas panelas. A morte da panela seria o extermínio da vida espiritual de uma igreja. Agora, as panelas da morte e a morte que há em algumas panelas, estas precisam ser eliminadas. Por isso é que algumas dessas Panelas precisam ser lavadas e o que é colocado para que cozinhem precisa ser verificado regularmente. Em tempo, deixo claro que está longe de mim pensar em admoestar a pastores e líderes. Quem sou eu? Guarde-me o Senhor de tal procedimento ou intenção. Peço portanto, de antemão, perdão se pareço "intrometido" em assuntos que deveriam ser puramente ministeriais mas a Palavra é a Palavra e não busco atacar quem quer que seja, não cito nomes ou explicito nem mesmo fatos de amplo conhecimento que os liguem a pessoas de referência, afinal, são separados, ungidos para um fim e prestarão contas a Deus com mais severidade.

 Silvio Araujo  


(Clique para ampliar)
* Alguns estudiosos dizem que essa parra brava, conhecida como colocíntida, era uma espécie de trepadeira ornamental, da família das cucurbitáceas - Cucurbita pepo - de flores com amarelas e frutos com manchas muito parecidos com os pepinos comestíveis que conhecemos, mas que ao serem ingeridos produzem muitas dores abdominais e têm efeito laxante muito forte. 


Texto publicado originalmente neste blog em 12/01/2010 sob título Panelada Mortal

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei e com certeza fora aprovado por muitos esta reflexão, a morte na panela.Foi muito eu diria ousado mais de uma grande eficassia,estamos vivenciando isto mesmo, nestes últimos dias da Igreja do Senhor na terra,podemos fazer alusão com os trezentos de Gedeão, o nosso DEUS conta com os verdadeiros adoradores que tem compromisso com a sua palavra, os interesseiros,enganadores,seram punidos, por se só essas duas caracteristicas qualifica esses falsos mestres, se naõ vier se arrependerem ficaram de fora do plano da SALVACÁO, que o Senhor nos guarde.

henripib@gmail.com disse...

Muito boas as suas colocações. Pena que li depois de ter pregado sobre esse tempo. Acrescentaria muito no que preparei, diante de algumas percepções que o irmão teve e que não tive. Mas, ficarão guardadas para uma próxima oportunidade. Precisamos divulgar que há remédio da parte de Deus para todos quantos tiverem ingerido os venenos heréticos servidos nas panelas espúrias existentes por aí. A farinha representa a Palavra que é o próprio Jesus Cristo, o Verbo Encarnado.
Deus nos abençoe e use!
Henri - esposo de Sandra - 30 anos
Membro da ABACLASS

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