terça-feira, 25 de setembro de 2012

Como é que é? Pagar direitos autorais pelas músicas cantadas nos cultos?


"Soube hoje (11/09/2012) que as Igrejas Cristãs Nova Vida, da qual sou o Bispo Primaz, foram notificadas de que teriam de pagar direitos autorais pela execução de músicas de “louvor” nos seus cultos. Cada uma de nossas igrejas ficaria, assim, responsável por declarar o número de membros e a frequência aos seus cultos, para que fosse avaliado o imposto a ser pago ao Christian Copyright Licensing International (CCLI), sociedade que realiza a arrecadação e a distribuição de direitos autorais decorrentes da execução pública de músicas nacionais e estrangeiras. Por sua vez, o CCLI repassaria o valor devido aos compositores cujas músicas estão cadastradas.

São poucas as vezes em que me vejo sequestrado por um assunto do momento aqui no blog. Tenho como norma pessoal não me deixar levar pelas “últimas”.  Já há bastante alvoroço em torno de assuntos efêmeros e não precisam da minha voz para somar à confusão instaurada por “notícias” e controvérsias. Não obstante essa regra que tento seguir, não posso me calar ante esse fato. Já deixei passar algumas horas até que a minha revolta se acalmasse, para que, no seu lugar, pudesse me expressar com clareza e me reportar às Escrituras como regra. Pois, em meio ao transtorno, ninguém se contém e acaba por pecar pelo excesso. Isso não quer dizer que me sinta menos convicto sobre o que tenho a dizer, mas quero realmente trazer uma perspectiva lúcida.

Comecemos pelo que constitui o direito autoral e o porquê da sua existência. Seria justo que alguém lucrasse pelo trabalho, a inspiração e a arte de outro sem que o autor da obra participasse dos lucros? Certamente que não. Cada emissora de rádio, show ou outro tipo de empreendimento com fins lucrativos deve prestar a devida parcela do seu lucro a quem ajudou a produzir essa arte.

Por outro lado, a Igreja é um empreendimento com fins lucrativos? Não – segundo a definição do próprio Estado brasileiro. Ela goza de certos privilégios, na compreensão de que a sua atividade é religiosa, devota e piedosa e, sendo assim, sem fins lucrativos. Que muitos “lucram” em nome da Igreja ninguém duvida. Mas, em termos estritamente definidos pela legislação, não é um empreendimento que tenha como finalidade o lucro.

Louvar a Deus é uma atividade que gera rentabilidade? Também não. Quando cantamos ao Senhor, estamos nos expressando a Deus em sacrifício santo e agradável a Ele (se bem que não caem nesta categoria muitas das músicas que doravante serão objeto de taxação, por decreto-lei). Mas, para manter o fio da meada desta reflexão, suponhamos que as músicas adocicadas, sem fundamento em qualquer real princípio cristão, emotivas e, em alguns casos, passionais (para não dizer sensuais) sejam realmente louvor (algo que tenho tentado ensinar a nossa denominação que não são).  Cantar essas músicas traz lucro para a igreja? A resposta énão. A igreja não lucra. Não há um centavo a mais caindo nas salvas porque cantamos uma música de uma dessas cantoras gospel da moda em vez de Castelo Forte. É possível fazer um culto fundamentado apenas nas músicas riquíssimas do Cantor Cristão e da Harpa Cristã (para não falar nos Vencedores por Cristo, cuja maioria das canções não recai sobre este novo decreto-lei).

Esses cantores e essas cantoras têm o apoio de empresários da fé. Homens que também lucram absurdamente às custas da boa-fé de pessoas a quem prometem uma vida de lucro pelo seu envolvimento. Não me surpreende ver a lista de “notáveis” que apoiam essa iniciativa.

Agora, esses cantores que se venderam para emissoras de televisão, que ganham fortunas nas suas turnês “gospel” e pela venda de incontáveis CDs e DVDs, não estão satisfeitos. Querem mais. Querem “enterrar os ossos”. Tornaram-se mercadores da fé, e com essa última cartada, suas máscaras caem por terra. Que máscaras? As que fazem com que acreditemos que eles realmente creem que o culto é para Deus somente. Para eles, a igreja não passa de fonte de lucro. A igreja não passa de um negócio. Sim, porque, por essa ação, afirmam não acreditar que a igreja seja uma assembleia de sacrifício. Para eles, a igreja é uma máquina de dinheiro. Sua eclesiologia é clara. Suas lágrimas de comoção são teatro. Seus gestos de mãos erguidas não passam de encenação.

A despeito do meu repúdio por esse grupo de músicos “cristãos”, fico grato a eles por uma razão. Tenho tentado ensinar a denominação que lidero a ser mais criteriosa na escolha das músicas cantadas nos cultos. Por força da popularidade desses “superastros do louvor” a pressão da juventude e dos músicos da igreja tem sido quase insuportável. Então cantam as músicas sem devocionalidade real deles e delas para o enlevo de pessoas que nem precisavam confessar Jesus para cantá-las com comoção. Graças ao mercantilismo dos tais, vou emitir uma circular para as nossas igrejas em que instruirei todas a pagar os direitos autorais devidos caso queiram insistir em usar as referidas músicas da moda em seus cultos.

Os que não querem fazer parte desse mercado de rapina receberão uma lista compreensiva de músicas que continuam sendo de domínio público, inclusive as que compus e pelas quais nunca recebi nem quero receber um centavo. Graças a Deus, são os bons e velhos hinos que têm conteúdo e substância, confissão e verdadeiro testemunho do Evangelho. Há centenas de hinos antigos que vamos tirar das prateleiras e redescobrir. Podemos aprendê-los e retrabalhá-los para torná-los atuais aos nossos dias, com arranjos interessantes. Músicas escritas por santos e não por crianças. Músicas escritas para a glória de Deus e não para lucro sórdido. Sim, falei sórdido. Pois os atuais já lucraram com o que é legítimo. Agora vão atrás do resto. É um gospel de rapina. Sinto-me na necessidade de tomar um banho, pois essa história me forçou a passear pelo lamaçal onde esses chafurdam para encher a própria barriga – que é o seu deus, afinal.

Que bom que já me acalmei, pois realmente tinha vontade de dizer muito mais.

Na paz,
+W"

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Benefícios da Educação Musical



Artigo da Profa. Kátia Rodrigues

A educação musical é pouco valorizada e difundida no Brasil, mas é de fundamental importância no desenvolvimento do indivíduo. Os gregos sabiam muito bem e valorizavam este conhecimento como princípio formador do ethos de uma sociedade. Ethos significa valores, ética, hábitos e harmonia. São os traços característicos de um povo, seus costumes social e cultural.

Logo, a música faz parte da formação da identidade de um povo.

Para os gregos, a música era tão importante e universal quanto o próprio idioma. Ela era um componente responsável por “direcionar a conduta moral, social e política de cada indivíduo” (NASSER, 1997).

A neurociência usa o termo “funções musicais” para designar “um conjunto de atividades cognitivas e motoras envolvidas no processamento da música.” (BALLONE, 2010).  O estudo da música favorece conexões entre neurônios relacionados aos processos de memorização, atenção, raciocínio e matemática.

Poderíamos ainda citar o cultivo da disciplina no estudo, uma virtude que deveria ser desenvolvida por todos nós, indivíduos integrantes de uma cultura social que não valoriza a contemplação, a paciência e a perseverança.

A música desenvolve o trabalho em equipe. Uma só pessoa não forma uma orquestra, banda ou um coro, mas cada um tocando e cantando em seu momento forma o conjunto onde o espectro sonoro se completa.

A música expressa sentimentos que podem não ser bem expressos em palavras, mas quando estes sentimentos são tocados ou entoados falam direto ao coração.

A prática da música ensina e dá coragem para que os alunos ultrapassem medos e assumam riscos. Por muitas vezes em nossa vida lidamos com medos e ansiedades. Encará-los e superá-los podem nos levar a ter uma vida mais saudável.

Os benefícios são inúmeros tanto para a sociedade  quanto para cada indivíduo, seja crianças, jovens, adultos ou idosos. Este é o convite: cantando ou tocando estude e pratique música!

Referências
BALLONE, GJ - A Música e o Cérebro - Disponível em: www.psiqweb.med.br, 2010.
NASSER, NAJAT. O Ethos na Música Grega. Boletim do CPA, Campinas, nº 4, jul./dez. 1997. 

Vi primeiro no Blog Ter Fé é Não Ter Limites
Veja também: O cérebro musical

Católicos alemães não receberão sacramentos se não pagarem por isso

A Igreja Católica da Alemanha anunciou que não oferecerá os sacramentos religiosos aos fieis que não paguem o imposto religioso, como forma de limitar o abandono das atividades de católicos não praticantes.
A medida entra em vigor nesta segunda-feira e modifica um sistema criado no século 19, em que os cidadãos do país são obrigados a se declarar religiosos e, após isso, fazer uma contribuição obrigatória, similar ao dízimo.
Devido ao novo decreto, qualquer alemão que não esteja vinculado financeiramente com a Igreja Católica terá de pagar para fazer confissão, eucaristia, confirmação e a unção dos enfermos, salvo em caso de risco de morte.
Os que não contribuírem tampouco poderão apadrinhar uma criança ou se casar no religioso sem autorização da diocese local. Se permitidos, os pais deverão se comprometer a educar o filho de maneira religiosa.
Ainda poderão ser proibidos os enterros religiosos, se o morto não manifestou nenhum arrependimento antes de sua morte.
QUEDA - Os bispos do país aprovaram a medida, que busca estancar a queda no número de fieis, que passou de 181 mil em 2010 para mais de 126 mil em 2011.
O principal motivo para a diminuição foram os escândalos de pedofilia no país, que provocaram a excomunhão de diversos padres.
No país, os católicos, assim como os luteranos e outras ideologias protestantes, que se declarem como tal devem pagar uma taxa de 8% a 9% da renda total, recolhido pelas autoridades e repassados para as igrejas.
De acordo com as estatísticas oficiais, a Igreja Católica conseguiu € 5 bilhões (R$ 11,5 bilhões) em impostos em 2010, contra € 4,3 bilhões (R$ 10,5 bilhões).
Fonte: Folha 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Militância discrimina suplente de Marta Suplicy por ser evangélico

Na despedida do Senado, Marta Suplicy (PT-SP) demonstrou preocupação com o suplente, o vereador Antônio Carlos Rodrigues (PR-SP), ao mostrar à senadora Lídice da Mata (PSB-BA), pelo celular, um e-mail que classifica o sucessor como “evangélico e homofóbico”. A mensagem, segundo a senadora baiana, foi encaminhada a Marta por um grupo que defende o direto dos homossexuais. De maneira involuntária, a petista — indicada ao Ministério da Cultura após um arranjo eleitoral em troca do apoio à candidatura de Fernando Haddad (PT) em São Paulo — pode colocar por água abaixo a tentativa do partido de conseguir votos dos evangélicos na reta final do primeiro turno. No e-mail, há uma clara tentativa de evitar que Antônio Carlos assuma a relatoria do projeto que tem como objetivo criminalizar a homofobia no Brasil. Marta era a relatora da matéria.

A primeira frase do e-mail, registrado pelo fotógrafo do Correio Iano Andrade, evidencia o tema em questão: “Substituir a senadora Marta Suplicy na relatoria do PLC 122”. Em seguida, há uma reclamação. “Está havendo muitas críticas pelo suplente, que é evangélico e homofóbico.” No fim, há um questionamento sobre o procedimento a ser tomado. “Podemos fazer isso (possível substituição)?” Por meio da assessoria de imprensa, Marta informou que não iria comentar o assunto. Declarou apenas que recebe muitos e-mails e não tinha como localizar a mensagem em questão. Ela estava na Mesa do Senado presidindo a sessão à tarde e desceu para mostrar o celular a Lídice. Após uma breve conversa entre as duas, retornou ao lugar.

Notícia publicada no Correio Braziliense -13/09/2012

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A música e o louvor para um novo tempo



Não se pode menosprezar a importância da música como mercadoria cultural, considerando-se a proximidade e a intimidade que ela consegue estabelecer com os indivíduos, pela capacidade que tem de sensibilizar as pessoas a partir dos esquemas propostos pelos vários meios que dela fazem uso.

A música está presente no rádio, na televisão, no cinema, na publicidade, nos computadores, nos ambientes de todo o tipo. Ela pode ser ouvida no toca-discos (ou similar) de cada um a partir do ato da compra ou escolha do formato. Você já percebeu que nós somos, muitas vezes, simples “transeuntes musicais”, ou seja, somos expostos à música só por estarmos ou por passarmos em um determinado lugar?

Neste final de século, o raio de atuação e a influência dos meios de comunicação de massa ampliou e qualificou espantosamente. Como compreender, então, as estratégias que elegem determinados artistas e canções para comporem o quadro dos símbolos? Quais são os agentes sociais que orientam a decisão sobre o tipo de música que irá integrar o mercado: o público, a indústria ou os artistas?

A Música e a Sociedade

Na década de 30, Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor W. Adorno (1903-1969) formularam o conceito de “indústria cultural”, levados pelo desenvolvimento das indústrias fonográfica e do cinema. Essa industrialização foi introduzida nas artes, tendo a invenção do fonógrafo e cinematógrafo abalado dois ramos específicos delas: o som e a imagem. Pelo fato de também ser um músico, Adorno era particularmente sensível a tudo que se relacionasse à música. Com declarações e opiniões bastante contundentes, Adorno refletia o seu posicionamento diante de uma situação onde a sociedade consumidora demonstrava certo conformismo. Segundo ele, o empresário impunha ao público o produto que a estatística lhe indicava ter maior aceitação, i. e., toda a possibilidade de escolha livre se apagava, pois o consumidor não tinha ao seu alcance senão aquele produto designado como o mais desejado.

O avanço tecnológico vivido pelos membros da nossa sociedade é espantoso. Alguns estudos têm demonstrado que o desenvolvimento tecnológico tem possibilitado a maiores parcelas da população o contato com produtos culturais cada vez mais variados e sofisticados. Além disso, produtos, imagens, informações, conhecimentos, hábitos e valores são amplamente compartilhados nas cidades, nos países, enfim, no mundo. (Não cabe aqui discutirmos questões ligadas à economia).

Por outro lado, analisando a situação que vivemos nos dias atuais, podemos observar que a vida cultural, tornada indústria herdou a produção em série, a padronização, a repetição, ou seja, a “pseudo-individuação” (DIAS, 2000, p. 27). A obra de arte, que era anteriormente veículo da idéia , foi completamente dominada pelo detalhe técnico, pelo efeito, substituída pela forma. Os produtos, segundo Adorno, “são feitos de tal forma que sua apreensão adequada exige, é verdade, presteza, dom de observação, conhecimentos específicos, mas também de tal sorte que proíbem a atividade intelectual do espectador, se ele não quiser perder os fatos que desfilam velozmente diante de seus olhos”. (DIAS, 2000, p. 27)

Voltemos um pouco na história. Com o fim do período barroco, em torno de 1750, a arte monárquica entrou em declínio. Desenvolveu-se aos poucos uma vida musical nova, a da burguesia, e a música foi cada vez mais assumindo um símbolo de estatuto social. A saber, sobre o público burguês comenta Ivo Supicic:
“Apesar do seu interesse pela música, era freqüente que esse novo público manifestasse um gosto bem medíocre ou mesmo bastante vulgar. Era característica da mentalidade desse público a opinião—corrente na Alemanha, por exemplo—segundo a qual a música tinha o poder de aliviar o peso dos esforços e do cansaço de um dia dedicado (pelo burguês) a tratar de negócios, a ocupar-se com números e contas”. (MASSIN, 1997, p. 412)

Em torno de 1830, certas distinções no interior da vida musical começaram a manifestar-se. Elas refletiam diferenças de gosto, de estética e, às vezes, de cultura e de condição social: de um lado, surgiu uma tendência mais popular, mais acessível, que não tinha outra ambição senão distrair; do outro, delineou-se a corrente de uma arte mais exigente, profunda e de alta cultura, que geralmente se reportava ao passado e era apreciada por um público restrito.

Atualmente, o nível de complexidade e sofisticação alcançado pela indústria cultural torna grave o risco de suavizarmos seus efeitos sobre a vida social e cultural. Vivemos numa sociedade de consumo onde tudo é uma exibição, um espetáculo, e a imagem pública é tudo. Para os estudiosos, o sentido tradicional de “conhecimento”, dentro do contexto de pós-modernismo, entrou em decomposição. Com o advento das tecnologias de computação enfatiza-se a “performatividade”, a eficiência e a produtividade dos sistemas, por outro lado, provoca-se o distanciamento das questões de valor intrínseco, mais profundos.

Cresce também a indústria do entretenimento. Afirma Adorno: “No estágio avançado da era industrial as massas não conhecem nada além da obrigação de se distrair e relaxar; assim se manifesta a necessidade de recriar a força de trabalho esgotada durante o alienante processo de trabalho”. (PUTERMAN, 1994, p. 17)

Chegamos, então, a um dos pontos cruciais da nossa discussão: a música-mercadoria. Não podemos negar que nenhuma outra mercadoria cultural tem mostrado tamanha capacidade de interação com os demais meios de comunicação de massa.  As altas cifras alcançadas pela indústria fonográfica passam, muitas vezes, desapercebidas pela população “comum” e até mesmo por estudiosos. Daí perguntamos: Como a indústria concebe o produto? Como ele chega até a indústria? Quais as especificidades do processo de trabalho? Com quais características o produto chega ao mercado? Como se dá a realização e a reprodução desse processo? E mais: Como entender as estratégias que elegem determinados artistas e canções para comporem o quadro dos símbolos?

A Música Sacra

Dentre as atividades e os programas existentes na igreja, o programa de música tem recebido atenção quase que especial nos últimos anos. Há algum tempo, a presença de um ministro de música (ou diretor de música) tornou-se um elemento de extrema importância para o programa musical da igreja. Isso não quer dizer que o quadro agora é o ideal, mas está bem melhor do que há quinze ou vinte anos atrás.

Ao mesmo tempo em que nos deparamos com uma conscientização, ainda que paulatina, por parte da igreja local para a orientação musical dos seus congregados, cresce, em andamento acelerado, o interesse de muitos congregados na participação direta do programa musical, mais precisamente no culto. Consequentemente, a orientação musical não tem atendido à demanda dos participantes leigos.

O estado da música sacra é bastante complexo no momento histórico que estamos vivendo. Hoje, enfrenta-se situações difíceis como fruto da pouca reflexão no passado sobre a música sacra e os fatores envolventes da área. É indispensável pensar racionalmente sobre a música sacra. As discussões em torno do assunto, na maioria das vezes, recorrem a um subjetivismo exagerado e o resultado é a predominância de duas linhas de pensamento: a música que as pessoas gostam e a música que as pessoas conhecem.

Essas duas linhas manifestam-se como força impulsionadora do entendimento de muitos sobre a música sacra e projetam-se no discurso de vários membros da liderança. A conseqüência mais séria causada ao abraçar apenas essas duas alternativas é a falta de visão das possibilidades e ideais a serem alcançados a curto, médio e longo prazo. As decisões a serem tomadas concernentes à música sacra não devem basear-se apenas no costume e na tradição daquela igreja, mas, também, nas necessidades daquela comunidade cristã.

Muitas propostas estão surgindo e vários líderes aceitam-nas sem questioná-las e sem avaliá-las conforme a necessidade de sua congregação. Cada igreja tem as suas características próprias e está inserida numa realidade sócio-cultural específica. Esses aspectos concorrem para a diferenciação entre as muitas igrejas batistas. Podemos questionar será que uma igreja batista no interior do Amazonas tem as mesmas características musicais de uma igreja no interior do Rio Grande do Sul? E quanto à liturgia delas? Elas têm a mesma estrutura litúrgica? (Será que precisam ter a mesma estrutura?)

Talvez não seja necessário irmos tão distante. É possível obter exemplos díspares dentro do próprio estado e/ou da mesma cidade. A tendência tem classificar a música executada na igreja como: tradicional, “contextualizada”, moderna, contemporânea, “animada”, parada, antiga, adormecida, etc. Na maioria das vezes busca-se o fundamento para tais classificações achando-se que a música na igreja A é “melhor” do que a da igreja B. A questão de a música ser “melhor” na igreja A é um tanto quanto relativa. Deveríamos, sim, perguntar: “será que o programa musical desenvolvido atende às necessidades daquela igreja específica?”

Tomemos como outro exemplo a frase: “A música da minha igreja é num estilo mais moderno do que qualquer outra no bairro.” A expressão “moderna” tem sofrido interpretações controvertidas, o que vem causando dificuldades. É moderna aquela igreja cujo programa musical inclui instrumentos musicais tais como guitarra, violão, bateria, etc? É moderna aquela que usa uma orquestra de cordas? É moderna aquela que desenvolve um programa de coros graduados? É moderna aquela que dispensa todos os coros e utiliza apenas os grupos de louvor? É moderna a igreja que quer atualizar o seu programa musical e mantém os outros programas desatualizados?

Considerações Finais

Uma boa parte da música para o “louvor” de muitas comunidades reflete a influência da indústria fonográfica com a música-mercadoria, caracterizada por uma “padronização”, uma repetição, em todos os sentidos. O simples ato de fazer música não implica em dizer que a criatividade está presente. Se eu posso apenas duplicar (imitar) a música de outrem, não estou demostrando criatividade, apenas habilidade. (BEST, 1993, p.12)

De uma forma abrangente gostaria de apresentar três falácias sobre a imitação:

a) a imitação inibe o esforço individual daquilo que é imitado, porque o objeto pode ser duplicado;
b) a imitação cancela a peculiaridade do que é imitado, por ser objeto único criado a priori;
c) a imitação põe em cheque a individualidade do imitador quando este nega o seu direito de ver ou dizer alguma coisa de forma diferente. Dessa forma, o imitador nada mais é do que uma imitação de todos os outros imitadores. (BEST, 1993, p. 20)

A visão criativa é maior do que a visão ótica, o ouvir corporal, ou qualquer técnica. Ela está baseada no mistério inexplicável do ser humano criado à imagem do seu Criador (imago dei). Na busca de modelos, muitos se perdem e não usam o talento que receberam de Deus, procurando espelhar-se completamente nos outros. Esses não são originais.

Nós vivemos numa sociedade do “descartável”. Ë o que podemos chamar de arte para o momento ou música para o momento. A função duradoura é irrelevante e a presença da qualidade é, geralmente, inversamente proporcional à duração do uso. Os artistas do descartável poluem a cultura e forçam “conceitos” nas pessoas que arrefecem a sensibilidade dos sujeitos.

Os fatores complexidade e simplicidade significam o que no processo criativo? Mais e menos? Complicado e claro?  Qual deles é o melhor? Mais profundo? Tão elegante como enigmático possa parecer o simples, o prazer de ouvi-lo é breve e passageiro. Por outro lado, o complexo requer disciplina, atenção e memória, oferecendo um prazer mais profundo e extensivo à inteira peça musical. O ouvinte precisa conhecer ambos.

Encerro sugerindo quatro critérios que podem ser usados para julgarmos uma obra de arte, qualquer que seja ela. Esses critérios são apresentados por Francis A. Schaeffer para análise da arte representativa, aqui, fazemos uma adaptação para a música. São eles: (SCHAEFFER, 1973, pp. 41-48)

a) excelência técnica: a união entre texto e música; o complexo harmônico; a objetividade da escrita musical mesmo usando elementos intricados.

b) validabilidade (legitimidade): está o artista cristão fazendo arte para somente ganhar dinheiro e fama? Será que a preocupação dele ou dela é ser aceito pelo grupo?

c) conteúdo intelectual: que princípios estão sendo passados através do que cantamos? Em que tem os artistas baseado suas composições? Nas Escrituras Sagradas?

d) harmonização entre o conteúdo e o veículo transmissor: o compositor evangélico precisa refletir se o mais importante é o estilo de sua música ou a mensagem dela. Será que esse estilo musical está mais adequado ao texto do que vai ser cantado? (SCHAEFFER, 1973, p. 41-48)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIAS, Marcia Tosta. Os Donos da Voz: indústria fonográfica brasileira e mundialização da cultura. São Paulo: Bomtempo Editorial, 2000. 183 p.

PUTERMAN, Paulo. Indústria Cultural: a agonia de um conceito. São Paulo: Perspectiva, 1994. 118 p.

SCHAEFFER, Francis A. Art and the Bible. Illinois: InterVarsity Press, 1973. 63 p.

SUPICIC, Ivo. Situação sócio-histórica da música no séc. XVIII. In: MASSIN, Jean; MASSIN, Brigitte (Org.) História da Música Ocidental. Tradução Ângela Ramalho Viana, Carlos Sussekind, Maria Teresa Resende Costa. São Paulo: Nova Fronteira, 1997. P. 411-21.



quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Coral Masculino Ebenézer - 20 anos louvando ao Senhor


O Coral Masculino Ebenézer é um órgão da Igreja Evangélica Assembléia de Deus em Recife, atuando na congregação de Casa Amarela (Área 31), igreja presidida pelo Pr Ailton José Alves e coordenada pelo Pr Evandro Apolinário.

O coral surgiu do ideal de alguns jovens que desejavam formar um quarteto, à exemplo do que existiu nesta igreja nos idos de 1960. O interesse foi tanto que logo um grande número de varões estava de prontidão para os ensaios e a ideia inicial evoluiu para a formação de um inusitado Coro de Homens. 

À época eram exemplos desta formação de canto coral o Coral Masculino Eluzai de Amaro Branco/Olinda (o mais antigo,  inaugurado em maio de 1969) e o Coral Masculino do Templo Central (fundado em março de 1978 e inaugurado em 22/10/1978), além de "Cantores de Jerusalém" da AD em Abreu e Lima (fundado também em 1978, exatamente por Jairo de Paula e Sebastião Pereira, que eram do quarteto de Casa Amarela e passaram a residir naquela cidade na década de 1970).

Devidamente autorizados pelo Pr Salatiel Rosa, sob consulta ao então Pastor Presidente José Leôncio da Silva, os rapazes convidaram o regente Charles Bruno para os primeiros ensaios, sendo este auxiliado pelo jovem Silvio Araujo. A proposta era ser um Coral que atendesse todo o bairro, mantendo sede nesta congregação-pólo (ainda não havia a divisão de áreas eclesiásticas).

Com os ensaios o repertório logo cresceu mas o coro ainda não cantava. A primeira apresentação aconteceu em julho de 1991, no aniversário do Conjunto Infantil de Casa Amarela e na ocasião cantamos  os hinos “Glória ao Senhor” e “Ao Salvador Vem”, ambos do Hinário Coros Sacros, regidos por Silvio Araujo.
Coral Masculino Ebenézer. No púlpito, em pé, o saudoso Pr. Salatiel Rosa dos Santos. Foto do dia da inauguração.
Após um grande período de ensaios e apresentações esporádicas, o Ebenézer foi finalmente inaugurado no 2º domingo de maio de 1992, tendo à frente o regente Charles Bruno da Silva, conduzindo cerca de 20 integrantes.

No dia da inauguração o culto foi muitíssimo abençoado e a música principal foi “Aqui chegamos pela fé”, arranjo dos Arautos do Rei. No final, algumas pessoas se decidiram ao pés de Cristo.

Após a saída do regente Charles Bruno, assumiram por breves períodos os regentes Davidson Monteiro, Sandro Egípedes e Osvaldo Araujo. Destacamos também a importante ajuda de Edmilson Pessoa (Mobby), Heron Moraes e Josenildo Braga, que eram regentes auxiliares.

Em 1993 a diretoria do coral convidou o regente Silvio Araujo - que estava afastado do coro desde 1991 por atividades na congregação do Córrego do Botijão - para programar a festividade de 2º aniversário do Ebenézer. O mesmo deu continuidade ao trabalho, sendo oficializado regente titular pelo Pr. Salatiel Rosa (in memorian) em maio 1994, assim permanecendo até esta data pela graça do Senhor.

O Coral Masculino Ebenézer se apresenta regularmente em cultos semanais conforme escala, cultos de Santa Ceia e nos últimos domingos de cada mês, atendendo programações dos outros departamentos desta igreja e missões designadas pelo Ministério da Igreja.

Durante muitos anos realizamos o projeto “Ebenézer nas Igrejas”, cujo objetivo era visitar Escolas Dominicais, visitando dezenas de EBDs no Recife. Também cantamos em Presídios, emissoras de rádio e praças públicas, levando a mensagem da salvação através da música sacra.

Os dias passam, as gerações se sucedem, mas como disse o salmista dizemos nós nesta data: Louvarei ao Senhor em todo o tempo, o seu louvor estará continuamente em minha boca.

Comissão da Festa
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