Enquanto o Coral Cantava
Enquanto a música enchia o templo,eu vi o Rei.Vestido de majestade, coroado de honra,um cetro de poder e glória na mão.Ele voltava.Livre dos sapatos e dos preconceitos,da doença e da fadiga.Feliz, como uma criança que se atirana direção do Pai – depois de uma ausênciaque só fez maior o amor e a necessidadede ver – eu corria no meio da multidão,que erguia palmas brancasem saudação Àquele que voltava.
Lá estavam Livingstone, Carey, Bratcher,Corinto, Miranda Pinto...Lá estavam os vultos frágeis,Ana de Ava, Noemi Campelo, Caíta,Lotie Moon...Os missionários de todas as raças.Os grandes que se fizeram pequenos,os pequenos que a fé tornou gigantes:Bagby, Taylor, D. Chiquinha,que eu conheciquebrando coco babaçu,para sustento da obraque eles começaram.Lá estavam D. Maria e D. Carmen- um corpo perfeito no lugar daqueleque a lepra deformara.
Lá estavam Darito e os companheirosde enfermaria que ele levara a Cristo,livres do balão de oxigênioe do terrível clima de segregação.Lá estavam meus amigos cegos,com olhos enormes de luze expectativa;Meus priminhos mudos, entoando,mais alto que todos,o canto de vitória e gratidão.Livres de gradese de cadeiras de rodas,lá estavam muitos que eu conheceraprisioneiros da doença e do pecado.Lá estava meu irmãoque Deus levou tão cedo.
Lá estavam os mártires de todasas épocas, do tempo dos césarese das cortinas de ferro e de bambu.Lá estavam homens de pele escurae alma cor de neve;índios de brilhantes cabelos,crianças de todas as raças,cantando hosanas, como na entradatriunfal em Jerusalém.Lá estavam os meninos do Tocantins,os barqueiros do São Francisco,a gente do Araguaia,os colonos da Transamazônica,que se haviam tornado súditosdo Caminho maior.
Myrtes MathiasNum milagre sem explicação,a multidão de mil cores,que entoava hinos em mil línguase dialetos,era absolutamente igual, no sentimentoque fazia de todosuma só corrente de alegria,formada por mil elos de amor.
Eu disse que todos estavam lá?Não sei. Parece-me que havia lacunasna multidão e no coração do Rei.Muitos estavam ausentes,presos a cuidados terrenos,deixando a escola supremapara um amanhã inexistente,oferecendo a Momo um último holocausto,como se fosse possívelservir a dois senhores,abraçar o mundo, sem desprezar o Rei.
E foi assim, enquanto o coral cantava,que pude sentir o quanto amava ao Rei,o quanto meu coração agradecia,por estar entre os salvos;por chamá-lo pelo nome que Madalena usouquando o reconheceu:- Voltaste, Raboni! Aleluia!Bem-vindo sejas, meu Senhor, meu Deus!
No livro Encontro Marcado (JUERP)
Lí em Veredas Missionárias
Citando a fonte http://www.iciocara.blogspot.com/
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