Por Davidson Monteiro - regente
É de vital importância que se dê atenção, com igual peso de valor, à dicção de um grupo coral. O cuidado com a língua evita vícios de linguagem e erros gramaticais que comprometem profundamente o caráter profissional e artístico do grupo.
O apuro linguístico é tanto estético quanto necessário; nenhum coral alcança notoriedade e respeito técnico pronunciando palavras erradas e/ou atropelando regras gramaticais. Para tanto faz-se necessário um conhecimento extra pelo regente para corrigir, ensinar e condicionar os coristas a obedecerem as normas do falar culto.
A corrigenda da letra da música a ser estudada, com a observação das palavras de difícil significado ou pouco uso na linguagem coloquial, fazendo-se um glossário para a compreensão dos cantores em geral, facilitará o entendimento do texto, beneficiará o enunciado e enriquecerá o vocabulário de todo coral com mais uma nova palavra.
A pronúncia será muito bem mais fácil de ensinar, se o significado da palavra já for conhecido.
Há corais com grau técnico bastante significativo que pecam na dicção e é exatamente através da dicção, ou seja do falar e cantar com clareza, que mantemos contato com o público. É através da dicção que transmitimos a mensagem que há em cada canção, que serve para fixar na mente dos ouvintes toda a informação necessária à compreensão do texto.
Sendo nossos corais grupos ecléticos - já que são constituídos por indivíduos oriundos de diferentes camadas sociais e, por conseguinte, de escolaridade e níveis culturais distintos - é comum que se tenha uma certa dificuldade em se corrigir e se disciplinar possíveis incorreções linguísticas, mas com paciência e determinação todo regente conseguirá corrigir consideravelmente todas as incorreções de pronúncia, concordância e conjugação.
Conhecer os princípios básicos do idioma é de vital importância. Técnica vocal e linguajar escorreito caminham lado a lado. Conhecer as normas da versificação (o tratado do verso) também é importante, haja vista que cotidianamente nos deparamos com ela dominando a separação das palavras, elidindo sílabas para comportá-las sob uma mesma nota e mudando o acento tônico dos vocábulos por força do tempo forte do compasso. Assim sendo, uma palavra proparoxítona pode se tornar paroxítona ou vice-versa, respeitando-se a tonicidade da nota musical bem como uma frase interrogativa pode ganhar uma entonação afirmativa, já que não há como se cantar com entonação interrogativa.
Vejamos este exemplo do conhecidíssimo corinho:
“CANTAI AO SENHOR! UM CÂNTICO NOVO! CANTAI AO SENHOR! UM CÂNTICO NOVO!...”
Quando o cantamos pronunciamos a palavra CÂNTICO, que é proparoxítona, CANTICO (paroxítona) por mudarmos a sílaba tônica da antepenúltima para a penúltima, por força do acento musical.
Outro exemplo clássico de mudança de entonação gramatical em função do acento musical encontramos no hino 77 da HARPA CRISTÃ:
“Queres neste mundo ser um vencedor? Queres tu cantar nas lutas e na dor?...”
Tratam-se de perguntas que, no entanto, quando cantamos o enunciado sutilmente passam para a forma afirmativa sem que com isto firamos à gramatica.
Logo, o acento musical prevalece ao acento gramatical quando cantamos, mas, devemos estar sempre atentos ao domínio da língua como um instrumento para enriquecer a arte do canto coral.
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