quinta-feira, 19 de março de 2009

Andando sobre o mar


Depois que o Salvador deixou a multidão
A comentar dos pães a multiplicação,
Subiu ao monte e, ali, ficou a contemplar
A beleza do céu e a poesia do mar,
Sentindo o coração pulsando confortado
Pelo grande milagre há pouco realizado,
Sabendo que o fizera apenas pelo amor
Que sempre dedicara ao pobre pecador,
Fazendo reflorir na paz e na alegria,
A vida que murchava à dor de cada dia,
E fazendo brotar, numa festa de rosas,
Os tristes corações e as almas dolorosas...
E foi talvez ali, naquela solidão,
Que Jesus recitou a mais doce oração...

Caía a tarde. Ao longe, um barco navegava;
Soprava a ventania, o mar se revoltava
E as ondas a rolar, ameaçadoramente,
Pareciam querer tragá-lo, de repente...

Os discípulos seus estavam lá – coitados! –
Pelo negro terror da morte dominados...
Pescadores leais – homens do mar – como eram,
Diante da tempestade eles logo souberam
Que já não lhes restava a mais leve esperança...
Tudo estava perdido, a não ser que a bonança,
Por milagre de Deus, não tardasse demais...

E Jesus, que do monte os contemplava em ais,
Moveu-se de piedade e veio, devagar,
Leve, como a virtude, andando sobre o mar...

Quadro maravilhoso aquele! Quadro lindo
Que o tempo consagrou com seu valor infindo!
Nem as famosas mãos dos grandes escultores
Nem o gênio dos mais afamados pintores
Poderiam gravar, no mármore ou na tela,
Aquela aparição divinamente bela:
- O céu encapelado, o céu a lampejar
E Jesus, muito leve, andando sobre o mar.

No seu medo, porém, os discípulos vêem
Apenas um fantasma a lhes surgir do Além.
Mas, tal como a bonança esplendorosa e pura,
A voz do Salvador soou-lhes com doçura:
- “Não temais, que sou Eu! Tende ânimo, porque
O Pai, que tudo sabe, o Pai que tudo vê,
Sentiu a vossa angústia, ouviu vossa oração
E vos mandou, por mim, a sua redenção.”

Então Pedro exclamou: - “Se és tu, ó Mestre amigo,
Se és tu mesmo, Senhor, manda-me ir ter contigo!”
E Ele lhe disse: - “Vem!”
Pedro seguiu, mas logo
Vacilando, gritou – “Senhor, eis que me afogo!
Ó salva-me, Senhor!”
E o Mestre o segurou
E, muito paternal e calmo, lhe falou:
- “Por que tu duvidaste, homem de pouca fé?
Tem ânimo! levanta e firma-te de pé!
Pois aquele que crê e é salvo pela graça
Pode ordenar ao vento... e a tempestade passa...”

E, entrando ambos no barco, o mar ficou sereno,
Como a própria expressão do Nazareno...
O céu torna-se azul; cessou do vento o açoite;
E a lua, que surgiu para o esplendor da noite,
Era a coroa astral de Deus no firmamento,
E o símbolo de luz do Novo Testamento...

E os discípulos vão, agradecidamente,
No íntimo elevando aos céus a prece ardente,
Libertos afinal do peso das agruras,
Aprendendo do Mestre, à luz das Escrituras,
As mais belas lições e os conselhos mais sábios,
Sentindo os corações sem mágoas nem ressábios:
Claros – como o esplendor balsâmico do luar,
Leves – como Jesus andando sobre o mar.


Mário Barreto de França
In: Sob os Céus da Palestina
Editora JUERP Rio de Janeiro, 1971


Muitas vezes, enquanto criança e adolescente, ouvi este poema naquela pequenina congregação da minha igreja em Córrego do Botijão, subúrbio do Recife, especialmente recitado pela irmã Célia e pelo então jovem Oziel. Como enchia a alma! Era possível ver lágrimas nos rostos e ouvir muitas glorificações a Deus ao término desta mensagem. Era um tempo em que se recitava muito poesias e jograis, em todas as denominações, constume que caiu em desuso atualmente e que pode revelar inclusive o pobre nível cultural das igrejas evangélicas de nosso tempo, mais afeito a sinestésicos eventos recheados de cor e barulho, com raras exceções. Ainda posso louvar a Deus por minha igreja e oro para que o Senhor a conserve!

Sei que muitos também aproveitarão este momento para matar as saudades e indico o Poesia Evangélica, do amado Sammis Reachers, onde você poderá encontrar este e outros belos poemas evangélicos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Silvio,

Muito obrigada pela inclusão do link"A Tenda na Rocha" em seu abençoado espaço que também está linkado em meu blog.

Que nosso Maravilhoso Deus o abençoe e o guarde com saúde, paz e prosperidade no ministério de pregação do Evangelho.

Em Cristo, Wilma.

Wilma Rejane disse...

Imão Sílvio! Estava logada como meu filho ao fazer o comentário anterior, meu Deus! foi muita displicência! E só agora percebi quando voltei para outro comentário, peço desculpas.

Lhe indiquei no meu blog para receber o selo e prêmio: "O Milagre que Jesus Fez", pela sua disponibilidade em servir a Deus através de Missões e também na propagação do Evangelho.

Que o Senhor o abençoe e o guarde, em Cristo.

Silvio Araujo disse...

Irmã Wilma,
Agradeço muitíssimo por sua indicação e visitas aos meus blogs.
Eu sempre visito o seu abençoado sítio. É espetacular e eu o indico à visitação de todos os irmãos.
Que Deus continue lhe abençoando!

Maresol disse...

A poesia Andando sobre o mar de Mário Barreto França é uma dádiva de Deus. Recito poesias na Igreja e quando recito essa que é minha favorita, me alegro por demais no trecho que fala de Jesus andando sobre o mar, porque vejo a cena pela fé e realmente é um quadro muito lindo. A poesia é muitíssimo bela, inspirada por Deus.

Unknown disse...

Tenho mais de 70 anos de idade e ainda declamo esta linda poesia. Obrigada por postar este tesouro maravilhoso!

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