terça-feira, 29 de julho de 2008

Adoração ou Diversão?

A Ti, ó Deus, fiel e bom Senhor,
Eterno Pai, supremo Benfeitor,
Nós, os Teus servos, vimos dar louvor,
Aleluia! Aleluia!
A Ti, Deus trino, poderoso Deus,
Que estás presente, sempre junto aos Teus,
A ministrar as bênçãos lá dos céus,
Aleluia! Aleluia!
Henry Maxwell Wright (1849-1931)
O Dr. Warren Wiersbe, no livro de sua autoria "Adoração Verdadeira" (Real Worship), observou que depois da metade do século passado algumas mudanças sutis aconteceram nas igrejas: o templo se tornou um teatro, o ministério se tornou um espectáculo, a adoração se transformou em diversão e o aplauso agora é medida de sucesso. Para resumir, a adoração pública atual não é levada mais a sério pela maioria do povo de Deus. Ela se tornou um tempo de brincadeira leviana muito irreverente.

Estas mudanças não são boas! Pelo contrário! São evidências de uma caída vertiginosa e contínua dos padrões bíblicos! Um emudecer da verdade – mudando a verdade de Deus em mentira! Os crentes devem ter como objetivo principal o agradar e glorificar a Deus, mas muitos, hoje em dia, abraçaram os objetivos humanistas da auto-gratificação e prazer. Um culto "de adoração" bem sucedido é hoje comumente aquele em que seus participantes se sentem bem. Os que assistem também têm que se sentir à vontade, têm que ser entretidos (divertidos). Mas num verdadeiro culto espiritual, o desejo do coração do adorador é cumprido quando é Deus a quem Se agrada! E este deve ser nosso desejo e objetivo.

Com isto em mente, vamos notar algumas mudanças que estão destruindo os próprios alicerces da adoração pública.

DE TEMPLO A TEATRO

Uma mudança notável que aconteceu nos recentes anos tem a ver com a percepção geral de muita gente em relação ao templo em si. Sabemos que Deus não habita em edifícios feitos por homens – e sabemos também que o povo de Deus pode adorar em qualquer lugar se o espírito deles estiver de acordo com o Espírito Santo de Deus. Podemos adorar entre as quatro paredes de um templo, ou de uma casa ou de um hospital. Podemos adorar enquanto dirigimos o carro, ou sentados num avião ou dentro de um elevador. Às vezes adoramos em cultos ao ar livre. Não é o lugar que santifica o Senhor, é o Senhor quem santifica o lugar.

Por outro lado, a igreja do Senhor é um assembléia – e uma assembléia se reúne num lugar específico. Após as primeiras décadas da morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus, os crentes não tinham permissão de construir templos, por isso se reuniram principalmente nas casas ou espaços públicos disponíveis. Após o edito de Milão em 313 d. C., os crentes no império romano receberam a liberdade de adorar e de construir seus próprios templos de adoração.

O assunto que estamos tratando não é se estes edifícios são bons ou maus. Contudo, antigamente, era comum para um edifício que ia servir de igreja ter uma consagração distinta. Os prédios eram consagrados para o serviço e adoração de Deus. O prédio era uma "expressão" de adoração. Mas, hoje em dia, muitas igrejas já se tornaram lugares onde se pode mostrar os talentos que tem e gloriar-se neles, em vez de usar os talentos para glorificar o nosso Deus que trouxe a salvação ao pecador. Tememos que, na maioria dos casos, o foco esteja perdido, de maneira que saboreamos as coisas do mundo mais do que as de Deus. O foco da adoração deve ser nosso Deus e Salvador e não as pessoas que ficam à frente para cantar, tocar instrumento, pregar ou fazer qualquer outra coisa. O templo da igreja não é um teatro onde alguém faz um papel para chamar a atenção sobre si mesmo. É um lugar consagrado ao Senhor onde podemos dar toda a glória a Ele.

DE ADORADORES À PLATÉIA

Outra mudança é em como são vistos os "adoradores".
Esta é uma mudança sutil – e sem dúvida, há quem negue haver uma distinção real entre congregação e platéia. Talvez seja só uma opinião do autor. A congregação se ajunta tendo como centro do culto o Senhor Jesus Cristo e Sua Palavra. A platéia se reúne para ver e ouvir um espetáculo. Admitimos que a adoração da congregação geralmente é acompanhada do ouvir e ver – mas não é este o caso da platéia que se reúne especificamente para este propósito e fim. A platéia se satisfaz nos atos físicos de ver e ouvir. A congregação de adoradores se satisfaz na contemplação espiritual d’Aquele que é invisível e de ouvir Sua voz no coração. Estar numa platéia exige só que a pessoa vá à reunião, mas, a fim de ser adorador verdadeiro na congregação é exigido uma preparação espiritual anterior.

É claro que Deus Se reserva à prerrogativa de separar os verdadeiros adoradores daqueles que são simplesmente religiosos, mas uma observação pessoal parece indicar que uma pessoa meramente religiosa "irá à igreja", ao passo que o adorador desejará entrar na manifesta presença de Deus, na igreja. Existe diferença!

DE ADORAÇÃO A ENTRETENIMENTO (DIVERSÃO)

Uma terceira mundança ocorrida é aquela que transforma a adoração em diversão ou entretenimento.

A verdadeira adoração se centraliza em Deus. Na adoração, as almas se curvam maravilhadas e em contemplação de amor diante de Deus. Adoramos o Senhor Deus porque a graça nos ensinou que só Ele é digno – não porque nós vamos "ganhar" algo com ela.

Por outro lado, a diversão se centraliza no homem e agrada à carne. Se deixarmos de "ganhar algo" com a diversão (entretenimento), reclamamos, ou mudamos de estação, ou pedimos o dinheiro de volta. É por isso que algumas pessoas estão sempre mudando de igreja – estão à procura do excitamento ilusório da diversão. Não aguentam a sã doutrina, por isso preferem diversão à exortação.

E parece que isto está dando certo! É por esta razão que muitas igrejas crescem "muito rapidamente", simplesmente ao dar ao povo o que ele quer. Se pedem a música contemporânea, então dê a eles. Se pedem um comediante em vez de um pastor, assim seja. Se querem dança e drama, tudo bem. Se querem concertos de "rock", quem somos nós para nos opor? Talvez alguém seja salvo, enquanto ouve cânticos que podem deixar todo mundo surdo.

Esta é a filosofia de hoje. É tudo muito pragmático: o fim justifica os meios! Se funcionar, então tem que estar certo. E, com certeza, parece funcionar, caso após caso. As pessoas querem se divertir e se lhes dermos diversão (entretenimento), virão. Porque tem o que o povo quer.

Tantas igrejas hoje fazem seus cultos centralizados na diversão ou entretenimento. Podem até chamar de "adoração", mas o significado mudou. O canto tem como objetivo agradar a carne. O pastor é um "arista" que permeia seu sermão "algodão doce" com estórias, piadas e riso, tendo o cuidado de não ofender os ouvintes. Há pouca oportunidade para uma meditação séria ou adoração real.

DE MINISTÉRIO A ESPETÁCULO

O Apóstolo Paulo disse: "E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus Senhor nosso, porque teve por fiel, pondo-me no ministério". 1 Timóteo 1:12. Ele se regozijou em ser ministro de Deus. Duvido que haja qualquer chamado na terra tão elevado e importante quanto o do ministrar o Evangelho. Os ministros de Deus são retratados na Bíblia como mensageiros e arautos do Rei, como cooperadores de Deus, como pastores do rebanho, como servos fiéis e mordomos dos mistérios divinos, como embaixadores que rogam aos homens que se reconciliem com Deus. Os ministros de Deus nunca são chamados de artistas. De fato, uma das palavras que talvez descreva mais de perto um artista religioso é a palavra "hipócrita". O hipócrita (de acordo com o Dicionário Expositório de Vine) é um ator no palco.

Mas os "ministros" de nossos dias, muitas vezes parecem se envergonhar do seu chamado. Não estão dispostos a sofrer vergonha por amor de Cristo; eles deixam de lado o vitupério de Cristo, a fim de ganharem a aprovação dos homens. Em vez de pregarem Cristo e a cruz, exibem seus próprios talentos, credencais humanos, realizações carnais, carisma, eloquência e sabedoria. Procuram impressionar os homens com seus espetáculos. Tem pouco desejo de se mostrarem aprovados a Deus. Só ligam para o aplauso da platéia. Como resultado, temos hoje fãs clubes religiosos de pastores, cantores e outros artistas religiosos.

Juntamente com este pensamento, notamos que algumas igrejas de Deus adotaram o hábito mundano de bater palmas. Eles aplaudem cantores, aplaudem pedindo bis, gritam e vaiam como fanáticos de concerto de rock. Aplaudem quando o pregador diz algo de que se agradam e reagem com satisfação diante de qualquer outra exibição humana de habilidades religiosas.

Considera-se isto como o alívio desejado das formalidades mortas que geralmente caracterizavam nossos cultos, segundo eles. Vê-se tudo como algo natural – uma expressão espontânea de adoração. Infelizmente, o bater palmas raramente expressa adoração a Deus – é mais uma adaptação da sociedade de auto-admiração do mundo. Uma avaliação honesta mostraria que o ponto central é atenção demais dada ao servo e não ao Mestre. É de admirar que nossa adoração se transforme em espetáculo?

Para encerrar, quero dizer que a riqueza da nossa adoração é uma boa indicação da riqueza da nossa fé. É triste dizer, que por este padrão, nossa fé é patética – neste momento o nome Icabô está sendo escrito sobre nossas portas, porque a glória de Deus se foi. Que Deus dê a cada um de Seus filhos um espírito de graça e súplica para clamarmos por reavivamento.

Extraído de: A música na adoração - Capítulo 11- Mudanças na Adoração Pública - Pr Scott Guiley
Tradução: David Zuhars (Pastor da Igreja Batista em Newby, Richmond, KY, EUA)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Feliciano Amaral no Livro dos Recordes!

Feliciano Amaral: longevidade a serviço do louvor
Por Elvis Tavares

A Bíblia contém alguns exemplos de homens que foram favorecidos pela longevidade. Matusalém é o clássico exemplo, pois, conforme registro do livro de Gênesis, mais um pouco chegava aos 1.000 anos.

Há também o caso interessantíssimo do Rei Ezequias que, guardadas as devidas proporções em relação a Matusalém, sabendo da finalização de seus dias na Terra, rogou ao Deus da Vida que prorrogasse sua estadia terrena, ganhando do Senhor um bônus, uma sobrevida de mais 15 anos de existência.

Essa quase “perpetuação” da vida humana no planeta desgastou-se perante os olhos de Deus. A razão disto está no fato de o próprio homem, obra-prima do Divino, deixar, facilmente, perceptível sua inclinação em desviar-se de seu Criador, ficando a permanência da criatura mais com status de “passagem pela Terra” do que qualquer outra coisa.

Há, ainda, no Livro dos Livros, a ratificação
Feliciano Amaral, cantor há mais tempo em atividade no mundo
inconteste desse tema nas palavras do profeta Moisés, quando ele conclui, no Salmo 90:10, que “os dias da nossa vida sobem a 70 anos ou, em havendo vigor, a 80…”

Lancei mão de todo esse intróito para comentar sobre o cantor que está há mais tempo em atividade no mundo, fato constatado e registrado pelo “Guinness Book” (o famoso “Livro dos Recordes”). Falo de Feliciano Amaral, cantor e pastor, nascido na cidade de Miradouro, Minas Gerais, em 20 de outubro nos idos de 1920. Isto mesmo! Feliciano Amaral acaba de completar 86 anos de vida (e que vida)!

Já mencionamos em outro artigo neste site que foi Feliciano Amaral, na década de 1940, o primeiro cantor evangélico (não se falava “gospel” naquela época) a adentrar em um estúdio de gravação para colocar sua voz num acetato de vinil de 78 rotações, com a música Sou forasteiro aqui. A estréia fonográfica de FA na música cristã se deu pela extinta gravadora Atlas.

Naquela ocasião, seus contemporâneos atuavam na música popular; cite-se, por exemplo, Orlando Silva (o Cantor das Multidões) e Francisco Alves (o Rei da Voz), já falecidos há bastante tempo. Na música evangélica, depois de Feliciano Amaral, vieram Luiz de Carvalho (gravando o 1° disco oito anos após FA, com a música A graça de Jesus), Josué Barbosa Lira (in memorian, autor da canção Só o Senhor é Deus), Edgar Martins e outros.

O longevo Feliciano Amaral continua em franca atividade, cantando pelas igrejas do Brasil, revezando-se, principalmente, entre Rio de Janeiro e Manaus. Seu CD mais recente intitula-se Quisera sempre orar, lançado na Igreja Congregacional de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, aproveitando a festividade comemorativa do centenário daquela igreja.

Os misteriosos desígnios de Deus atuam sobre a vida de Feliciano Amaral, tanto é que ele foge à regra conclusiva de Moisés no Salmo 90, supracitado. Feliciano Amaral extrapolou os preditos 80 anos e aí vem a mão misteriosa do Criador dos seres e das coisas: a canseira e enfado mencionados pelo profeta não se evidenciaram em sua vida. Sua companheira, Rubenita, fala como um tenor ao dar uma nota dó, de peito, fazendo uma comparação ainda com o salmista, remetendo-se ao trecho das escrituras quando diz que os olhos de Moisés nunca se escureceram.

Querido internauta e leitor, você precisa ouvir a voz do amado Feliciano Amaral, hoje. Continua limpa e vibrante, desafiando a qualquer incrédulo sobre sua condição etária de octogenário cantor. Na semana de seu aniversário, tive a felicidade de ouvir sua entrevista no programa “Desperta Rio”, apresentado por Otoni de Paula, na Rádio Continental AM, aqui do Rio, e incontinenti incorporar-me ao seleto grupo de testemunhas de sua vitalidade.

Quem conhece o trabalho de Feliciano recorda com prazer de canções como Oração de Davi, O mar, Ao meu redor e O eterno fanal - esta última de Ivan de Souza, com edição pela EFRATA MUSIC - e tantas outras que em muito edificaram a vida de um sem-número de pessoas (não se pode calcular).

Duas curiosidades: Feliciano Amaral não utilizava a bateria em seus discos até chegar os anos 80, quando admitiu o instrumento no long-play Sou feliz, e no casamento do cantor e pastor Vitorino Silva ele foi o intérprete convidado para cantar na cerimônia.

Sem querer desmerecer o ministério dos cantores atuais, Feliciano Amaral jamais se afastou de sua condição de levita, entregando sua voz ao louvor, em primeiro plano, e isto ele faz questão de salientar.

Felicidades, Feliciano!

Fonte

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Diante do Trono lota "templo" profano

Cerca de 15 mil pessoas por noite conferiram o show do grupo Diante do Trono, de Minas Gerais, no último fim de semana. As apresentações, sexta-feira e sábado passado, no Chevrolet Hall, tiraram qualquer dúvida sobre a força e a popularidade da cultura gospel no Brasil e particularmente no Recife. O público lotou a casa de espetáculos de uma maneira raramente vista quando se trata de atrações seculares.

Já era esperado, de qualquer forma, o sucesso da passagem do Diante do Trono no Recife. Em dez anos de carreira e com 11 álbuns oficiais lançados (comenta-se que tenham vendido cerca de seis milhões de cópias de toda sua obra), o grupo já se consolidou como um dos principais nomes da música evangélica no Brasil. Particularmente sua líder e vocalista principal, Ana Paula Valadão.

Os artistas sabem da expectativa que cerca o show e capricham para recompensar o público. São 27 músicos no palco. Há naipe de metais, guitarristas, tecladistas, vocalistas. Um grupo de quatro dançarinas exibe coreografias para ilustrar as mensagens das canções. Uma verdadeira superprodução, justificada em parte porque o Diante do Trono estava ali também para gravar um DVD ao vivo.

Apesar da empolgação do público, não muito distante da que acompanha uma Sandy & Júnior ou uma Ivete Sangalo (não faltam sequer o mar de câmeras digitais brilhando no escuro para registrar os momentos mais importantes), porém, é mesmo a religião que parece motivar tudo ali. Os próprios músicos fazem questão de deixar isso claro nas entrevistas e na atitude no palco. Não é uma apresentação artística em si, mas muito mais uma cerimônia religiosa.

O show é precedido por uma oração, comandada por pastores daqui do Recife mesmo, no palco. Em seguida, as cortinas revelam os artistas e o espetáculo começa, com apenas dez minutos de atraso. E logo com Preciso de Ti, uma das canções mais conhecidas da trajetória dos mineiros.

Mas a música dura cerca de quatro minutos e logo sobe ao palco a pastora Ezenete Rodrigues, para iniciar umapregação que dura quase 40 minutos. O público levanta as mãos, dá-se as mãos, abraça-se, chora. Depois desse momento, as músicas voltam, e o palco novamente tem jeito de espetáculo musical. Boa parte do público conhece bem as letras e forma um grande coral na maioria das passagens.

O show vai até meia-noite. O suficiente para agradar o público. "Esperamos muito esse show. Viemos escutar a palavra de Deus. Também admiramos a música do grupo", disse a contadora Jaqueline dos Santos Leal, 36 anos, acompanhada da mãe, Anita, 76, e da irmã, Cristiane. As três vieram de Igarassu para participar da cerimônia.

O entusiasmo era o mesmo dos irmãos Jane e Jairo Mendes, acompanhados da amiga, Daniele Correia. "Pernambuco precisava desse show, para escutar a palavra de Deus. A violência e as drogas estão demais", disse Jane.
Reportagem do Diário de Pernambuco, 07/07/2008

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Música no Culto ou Culto à Música?

Artigo publicado no jornal Mensageiro da Paz, em junho de 1994, de autoria do saudoso Pr. Valdir Nunes Bícego.

O texto bíblico de Daniel 3.1-15 nos ensina que a “religião de Nabucodonosor” era caracterizada não somente pela adoração à imagem por ele erigida, mas também, e principalmente, pela exagerada utilização dos mais variados instrumentos musicais daquela época, o que induzia as multidões a prestar culto àquele deus pagão. Não havia prédica ou mensagem, mas somente o sonido dos instrumentos. Era a musicolatria, ou seja, a adoração à música. O valor que davam à música era tão grande que, de certo modo, superava até mesmo a adoração à imagem.
Pelo texto acima entendemos que somente havia adoração se primeiramente houvesse música. Valorizavam mais a música que sua adoração. Era um culto somente externo, emocional, com sonidos musicais nos seus ouvidos, porém, sem qualquer conteúdo espiritual para alimentação e regozijo de suas almas, que continuavam vazias, desprovidas das realidades e convicções eternas.
Embora milênios tenham-se passado, verificamos hoje, com muita tristeza e sem nos conformarmos que, com poucas exceções, o mesmo espírito que prevalecia naquelas reuniões tem invadido uma parte considerável de nossas igrejas. Em seus cultos a Deus, há preocupação demasiada com o louvor que, praticamente, ocupa quase todo o tempo da reunião, em detrimento das oportunidades para testemunhos das bênçãos recebidas, manifestação dos dons espirituais e tempo suficiente para a exposição da Palavra de Deus, pela qual a fé é gerada nos corações (Rm 10.17).
Tal atitude tem privado o auditório do mais importante do culto, que é a manifestação do sobrenatural de Deus na reunião. É a “religião de Nabucodonosor” infiltrada disfarçadamente em nosso meio.
Não há dúvidas de que o louvor tem um valor importantíssimo nas reuniões quando é feito na hora e tempo certos. Porém, quando é feito de modo exagerado, prejudica o culto. É muito comum, em algumas igrejas, o louvor tomar quase todo o horário do culto, restando, conseqüentemente, pouco espaço para a pregação da Palavra, que, às vezes, nem pregação é, mas somente um preenchimento formal do tempo, com uma palavra sem nenhuma inspiração. Assim, o povo sai das reuniões mal alimentado espiritualmente, tornando-se, portanto, uma presa fácil para Satanás. Ou então, a Palavra é exposta muito tempo após o início da reunião, quando o povo já está com sua mente cansada, sem condições de absorver a mensagem. Quem são os culpados? Os líderes. Eu vejo, entre outras razões, duas pelas quais alguns pastores conduzem ou permitem que o culto seja conduzido desta maneira:
1) Não oraram, nem meditaram na Palavra e, conseqüentemente, não receberam a mensagem para transmitir ao povo (às vezes, não possuem a humildade de reconhecer este fato e conceder a palavra a quem tenha algo de Deus para falar à igreja para sua edificação).
Conforme Mateus 24.25, o obreiro tem a obrigação de buscar a Deus a fim de receber alimento espiritual para dar ao povo. Quando isso ocorre, ele sente tão grande responsabilidade diante de Deus, que dirige o culto com o seu coração quase “explodindo” ou “fervendo” (Sl 45.1), mal esperando o momento de entregar o que recebeu do Senhor (1 Co 11.23) e, assim, não abrirá mão do tempo reservado para a Palavra. Aleluia!
2) Perderam a autoridade espiritual, as “rédeas” do culto, etc. São influenciados por pessoas, algumas consideradas “ilustres” e, como querem agradar a todos e a alguns, até com receio de perderem sua posição, deixam ou permitem que o culto siga sem o seu objetivo principal, que é o de alcançar as almas perdidas. Procedendo assim, acabam sendo dirigidos e não dirigentes dos cultos. Que tristeza!

Culto racional

De acordo com 1 Coríntios 14.26, os nossos cultos devem ter cinco coisas importantes: louvor, mensagem, revelação, língua e interpretação. O louvor, portanto, deve ocupar parte do culto, e não todo o culto. É somente a parte introdutória do culto. Quando Israel caminhava pelo deserto, a tribo de Judá ia na frente, e os músicos atrás (Sl 68.25).
“Entrai pelas portas dele com louvor e em seus átrios com hinos”, Sl 100.4. “Apresentai-vos ao Senhor com canto”, Sl 100.2. “As tuas portas chamarás louvor”, Is 60.18. O louvor abre a porta e, uma vez aberta, as demais coisas devem fazer parte do culto.
Como resultado negativo desta ênfase que vem sendo dada ao louvor, podemos mencionar, entre outros:
1) Estamos formando um grande contingente de cantores e músicos e, com poucas exceções, de ganhadores de almas, que é a missão de todos os crentes. A maioria das pessoas envolvidas na área do louvor pensa que seu trabalho na Casa do Senhor é somente cantar e tocar; daí a razão de se preocuparem somente com ensaios, programas, festividades, etc. Alguns há que, depois de participarem do louvor, retiram-se do recinto do culto, como se já tivessem feito a sua parte na reunião. Há outros que só estão na igreja porque gostam de cantar e tocar; é provável que, se um dia não houver nada disso, ou estiverem impossibilitados de participar do louvor, venham a se retirar. Alguns obreiros alegam que dão grande ênfase à parte do louvor para “segurar” alguns na igreja, principalmente os jovens, o que é um engano total. O que “segura” uma pessoa na igreja é a comunhão com Deus, o desejo de adorá-lo e de alimentar-se espiritualmente para firmeza na fé e robustecimento do espírito.
2) Como nossa igreja não possui um órgão oficial de censura doutrinária e rítmica para letras e músicas de hinos, estamos observando uma avalanche de músicas profanas recheadas de palavras evangélicas. Algumas destas músicas foram compostas por descrentes visando paixão carnal por outra pessoa; outras são temas de filmes. Isto sem falar dos ritmos avançados, em nada ficando a dever para o samba, o rock, o baião, etc., os quais somente promovem o balanço do corpo, e não o quebrantamento do coração. Influenciados, muitas vezes, por este espírito mundano, alguns hinos são compostos por pessoas sem temor de Deus, alguns até desviados, visando apenas lucro. O mercado musical evangélico de hoje, devido à referida ênfase, tem-se tornado tão grande que supera a muitos outros seculares, o que gera a composição de hinos somente com fins lucrativos, sem preocupações com a qualidade técnica e espiritual dos mesmos.
3) Em alguns lugares, o volume do som para o microfone, play-back e instrumentos musicais é tão alto que chega a ferir os tímpanos. De acordo com especialistas no assunto, o ouvido humano não suporta mais que 80 decibéis. Acima disto, os tímpanos poderão ser afetados para sempre, prejudicando a audição: senhoras gestantes poderão ter seus filhos afetados, sujeitos a nascerem com problemas. Isto sem falar no incômodo que causam à vizinhança da igreja, havendo lugares em que as autoridades necessitam intervir para diminuir o ruído exagerado.

Apelo às lideranças

O louvor, seja através dos cânticos ou da música, é uma bênção na igreja quando inspirado por Deus e executado no momento e tempo certos.
A igreja não pode perder de vista a sua missão principal na terra, que é a de levar almas para Cristo. Às vezes eu me coloco no lugar de um pecador que adentra algumas destas reuniões em que ficam o tempo todo cantando e tocando. Imagino como deve ser difícil para ele suportar quase duas horas de cânticos, alguns sem nenhuma inspiração, outros até com ritmos mundanos, sem ouvir qualquer mensagem de Deus pela Palavra. Ou então, quando ouve, já se gastou tanto tempo com outras coisas que não tem condição de absorvê-la. É bem possível que na hora do apelo ele não se decida e talvez não volte mais para aquela igreja, uma vez que encontrará em muitos lugares do mundo reuniões não muito diferentes das ali promovidas.
Talvez seja esta uma das razões porque a nossa igreja está obtendo hoje uma pequena taxa média de crescimento anual da ordem de 5%, quando em décadas passadas, chegamos a atingir 23%.
Se quisermos atingir um dos objetivos da Década da Colheita, que é ganhar 50 milhões de almas para Cristo até o ano 2000, precisamos crescer 26% ao ano. Por que crescíamos tanto no passado? Uma das razões era o sobrenatural de Deus operando nas reuniões através de testemunhos legítimos, manifestação dos dons espirituais e momento e tempo certo para a exposição da Palavra de Deus.
Não quero que ninguém interprete que sou inimigo de louvores no culto. Não, de modo nenhum. Sou profundo admirador dos louvores, seja por coral, banda, orquestra, conjuntos, hinos avulsos, etc., desde que sejam realizados no momento e no tempo apropriado das reuniões.
Queira Deus que esta mensagem de advertência alcance todos os leitores, principalmente as lideranças de nossas igrejas, a fim de que possamos redirecionar a programação de nossos cultos conforme o texto de 1 Coríntios 14.26, já comentado acima, e, assim, alcançar o nosso objetivo principal, que são as almas para Cristo.”

Valdir Nunes Bícego
Publicado anteriormente no Blog do Ciro
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